terça-feira, janeiro 26, 2021

Não são só números (às vítimas de Covid-19 no Brasil)

 

Em pensar que
um número
aleatório
entre cento e oitenta e seis mil,
setecentos e sessenta e quatro
e cento e oitenta e sete mil,
trezentos e vinte e dois,
é o meu pai,
o meu mundo
meu e de muitos...

                    Ele tem um nome,
                    uma história, uma vida,
                    uma família a qual ama
                    e pela qual é amado. 

                    Não é só um número.

                    Em pensar que 
                    o número depois dele
                    também é o mundo de muitos.

 

Quem sabe outro pai,
ou talvez uma mãe, avó, avô
filho, filha, esposa, esposo,
E o número antes dele, que também era
o mundo de alguém, se foi apenas instantes
antes que eu perdesse meu mundo, 

 

Em pensar que cento e oitenta e sete mil,
trezentos e vinte e dois mundos se foram…
Em pensar que nesse luto
nem sequer pudemos nos despedir.

 

Enquanto isso, nada.
eles não estão nem aí.
E daí? Bando de maricas.
É só verborragia lúdica,
ignorância celebrada,
e uma paralisia genocida. 

 

É foda. 

 

Não são só números,
são mundos. 

 

Não é só tristeza,
é raiva. 

André Espínola 

                    In memorian André Vidal Menezes Espinola (19/01/1954 - 21/12/2020) e todas as vítimas do covid-19

0 comentários: