terça-feira, março 15, 2011

Sobrevivência



O momento crucial na vida de cada ser humano é cheio de sangue, medo e horror. É quando tomamos consciência de nós mesmos e do mundo. É como se de repente estivéssemos na arena, completamente nus, sem sombra para atrapalhar-nos o julgamento, nenhuma máscara, nenhuma moralidade coletiva. Simplesmente nós mesmos na essência, sozinhos, como viemos ao mundo e sozinhos, como o deixaremos. Do outro lado, como oponente invencível, a Sociedade, idosa, porém, no auge de sua forma, gigante, imponente, completamente nua e cheia de chagas. Ela e todas as suas relações deprimidas, suas regras, seus padrões. Tão imperfeita e tão invencível. Uma dádiva! Mas temos de enfrentá-la de uma forma ou de outra, amando-a ou desprezando-a. Não se pode ficar do lado de fora. No final, ela sempre o engole com uma fome insaciável. É uma luta da consciência na qual apostamos toda nossa vida. Não se pode vencer o inimigo. Ou ajoelha-se e se entrega à sua vontade, ou morre-se a cada tentativa desesperada e inútil de ao menos feri-la. É então que se dá maior mistério do ser humano. Como não querer morrer quando se sabe das incontáveis semanas após os dias, dos exaustivos anos após os meses, que se tem pela frente sendo um perdedor? Como ter a consciência plena disso e não desistir? Como ter forças para levantar-se pela manhã e tentar novamente? Deus? Não, ele, em sua misericórdia, seria o primeiro a votar a favor do suicídio. Esperança? Essa incógnita que saiu da caixa de Pandora sem que ninguém soubesse se era uma dádiva ou o maior dos males? É, talvez seja ela mesmo. Mas e quando se perde a única esperança? E então? Música. Ouve-se muita música. Qualquer coisa, menos Joy Division, porque seria a corda que faltava para o pescoço.

André Espínola

1 comentários:

disse...

Adorei o texto... acho no entanto, que ele inicia de maneira sublime e vai assim até quase o final; já, no final, parece ficar tragicômico, algo assim...

Aliás, eu adoro a voz do Ian Curtis, batirono...

Abração!!