domingo, agosto 03, 2008

Silenciado

a noite me disse
para ficar em silêncio

e eu fiquei.

mas ela mesma não ficava:

tinha sempre um gato preto
correndo na telha,
e um ruído sombrio sentado
na mesa da sala.

tinha sempre uma garrafa velha
espumando as horas,
e uma ventania que contra a janela
se suicidava,

mas era só minha consciência
que, embora
em mim, na própria noite
se espalhava.

André Espínola

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