Da vida no metrô

pra conhecer a humanidade
não precisa de muita viagem
nem de muito dinheiro não!

basta uma andança
pelo metrô do Recife
no comecin' do dia,

que já é aquela
depre(cia)ssão toda
de almas penadas
trancafiadas no corpo
pela própria vida!

tem aquele que se dói,
de dor e de raiva,
por antes de sair de casa
ter levado uma topada
no dedão.

tem aquele com ressaca da braba!
e vai fechando os olhos assim
pra ver se lembra-se
do que fez ontem ou não!

tem o que não deu umazinha
com a namorada,
pois a bichinha tava menstruada,
e agora sua mente vai reconstituindo
como aconteceu
o nunca acontecido.

tem os que pensam no Sport,
no Náutico,
no Santa,
e na playboy d'alguma atriz
de novela da globo,
ou simplesmente pensam
na bunda que entrou na frente deles
e que também nunca irão comer.

tem aquele que vai lendo
o caderno policial da Folha
de Pernambuco:
é só espremer que sai
uma chuvarada de sangue!

tem o crente pregador
tão engraçado
que se enrola com as palavras
difíceis da bíblia.

e tem gente assim como eu,
que deixei a noiva na Rodoviária
e voltei para casa
profundamente triste,

sem ela.

André Espínola