quarta-feira, junho 04, 2008

Vitória Régia


No início, todo mundo queria trepar com a lua. Principalmente as índias. Se fossem os índios, ainda vai, mas as índias terem essa fantasia é, no mínimo, estranho. Devia haver algum problema conjugal entre eles, talvez a fama de preguiçoso ultrapassasse o trabalho manual e valesse até na cama. Mas não importa, o fato é que no início, todo mundo queria trepar com a lua. Quando a noite acabava, e ela ia se esconder por trás das montanhas ou das ocas, acreditava-se que levava consigo alguém a fim de desfrutar os prazeres da carne, para finalmente, ato contínuo ao coito, transformá-lo em uma bela estrela no céu. O consciente coletivo era tão forte que quando surgia a lua no céu, algumas virgens indígenas ficavam observando-a apaixonadas. Algumas até se sacrificavam para juntar-se a ela. E a lua, benevolente, justa e safada, quando via o trágico sacrifício, as transformava imediatamente em estrelas. O prazer em trepar com a lua e tornar-se estrela já bastava, não importava se o sangue e a carne desaparecessem e restasse somente sua luz no céu. Imagino a reação do índio que todo dia se masturbava pensando na sua indiazinha e quando surgisse o outro dia ele soubesse que fora trocado pela lua. Depressão já existia entre os índios, mas eles a curavam bem: fumavam maconha.

No entanto, uma dessas ninfetas indígenas se deu mal. Naiá tinha uma paixão tão louca que à noite ela subia pelas colinas, provavelmente nua, e ficava esperando que a lua a notasse e a levasse consigo. Ficou tentando durante muito tempo, mas nem sinal dela se interessar por Naiá, que, por sua vez, sentia inveja quando olhava para o céu e via as estrelas tão brilhantes e tão bonitas juntas de sua amada. Certa noite, com o coração partido, foi passear pelas redondezas. Aquela cena provocaria pena até a uma pedra, que não só tem o coração de pedra, mas o corpo todo. Mas a lua virava o rosto e preferia olhar para o Universo, até porque lá para aquelas bandas tem muito mais estrelas. Durante o mórbido passeio, Naiá sentou-se nas margens de um lago e começou a chorar. Quando, por fim cansada, enxugou as lágrimas, foi tomada pela surpresa de encontrar a lua, em pessoa, na sua frente, tomando banho nas águas do lago. A paixão é inocente e traiçoeira, e o desejo ainda mais. Naiá não olhou para o céu e não viu que a lua continuava lá, escolhendo outras virgens. Mergulhou desesperadamente no lago em busca do reflexo da sua amada e de lá nunca mais voltou. Este fato chegou aos ouvidos de crateras da lua e nem assim ela pensou em recompensá-la e trazê-la para perto de si. Estava de mal humor e deixou-a no lago como uma planta que de dia fica fechada em sua própria tristeza e somente à noite se abre, impotente e distante, para vê-la.

André Espínola

2 comentários:

Jessiely Soares disse...

Você está ficando cada vez melhor nisso. Essa atitude de pesquisar, interagir e escrever sobre os personagens lendários, abre uma nova perspectiva; são lendas para adultos.

Parabéns, bela idéia, belas imagens e quanta imaginação!!!

Adoro te ler tanto em prosa quanto em poesia. Você é excelente com as palavras.

=*

Anônimo disse...

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