terça-feira, maio 06, 2008

minha infância

Minha infância foi uma menina desmemoriada que brincou tanto de esconde-esconde que se perdeu em sua própria história. O Araxá nem sabia que tinha tanto esconderijo quanto nós achamos nele. É como se o edifício brincasse também de se esconder com nossas infâncias e sua memória se perdesse na nossa.

Não é um prédio que se diga que tem muito lugar pra se esconder: visto de cima, tem área quadrangular, onde o horizontal superior é um estacionamento no qual os carros descansam de sua marcha fúnebre, protegidos por uma grande telha, velha e prateada, que grita de dor sempre que cai nela violentas gotas de chuva. O horizontal inferior é um jardim quase sem flores e com duas árvores velhas, porém, na flor da idade. O lado vertical esquerdo é a entrada desses carros trabalhadores e o direito é a dos pedestres, por um portãozinho preto, que na maioria das vezes estava fechado e eu sempre ficava puto com isso, então andava mais um pouco e entrava pelo portão de carros.

Esse era o Araxá da minha infância e é ainda o mesmo de hoje. O que mudou foi que eu cresci um pouco deixei os carros de brinquedo, os bonecos de comandos em ação, de thundercats e he-man e comecei a beber, a foder, a estudar. Depois de indignissimamente formado em Administração, e pós graduado em planejamento e gestão, enchi o saco de tudo isso e parei de estudar, comecei então a trabalhar, trabalhar e trabalhar, como quase todo morador do Araxá que não é criança.

E na Estrada dos Remédios, onde ele jaz em pé, o que era um armazém virou uma concessionária, defronte há um espetinho onde bando de bêbados vêm mais se embebedar e, mais a frente, o bar do Genival, onde vejo os jogos do Sport no campeonato brasileiro – só do brasileiro, porque do pernambucano os jogos não passam, então eu fico em casa acompanhando os lances pelos gritos da torcida naufragada na Ilha do Retiro –

Mas na minha infância nada disso existia, só tinha o Araxá e os lugares para nele se esconder encolhidinho ali atrás do muro, só com um olho a olhar se aquele lugar estava ameaçado a ser descoberto, ou confundido com o tronco da árvore que também queria desaparecer, ou deitado debaixo dos carros, misturado ao óleo que deles vazava. O importante era se esconder sem se preocupar com os outros; eles que se escondessem...

Mas o evento principal era quando ficava por último: o Araxá querendo me dedurar, mas sua mudez ativa sempre me salvava. Até que enfim eu corria como corredor queniano na corrida de São Silvestre e batia um "salve-todos", ouvia os gritos de delírio, de esperança, de alegria e todos vinham correndo abraçar essa criançinha branca e gorda que eu sempre fui. Um herói.

André Espínola

1 comentários:

Anônimo disse...

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