do curupira

tava bebendo um vinho

no recife antigo

quando, mesclado aos sons

d'um rock e reggae rollando,

além dos passos d'uma

mulata dançando

samba,

ouvi um assovio

distinto.

era o curupira,

descalço e com os pés

virados pra trás,

negro, alto,

chapado e com cabelo

rastafari,

que saiu das matas

e tava passando um tempo

de férias no recife.

nessa floresta de concreto

não assusta caçadores

nem lenhadores,

não cria ilusões

enlouquecedoras,

porque aqui

as pessoas

enlouquecem por si só

num mar de dissabores,

nem muito menos

confunde pedestres

desatentos,

com suas pegadas

no chão

de asfalto.

.

André Espínola