quarta-feira, novembro 02, 2005

kd embriagai-vos

É preciso estar sempre embriagado.
Eis aí tudo: é a única questão.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo
que rompe os vossos ombros e vos inclina para o chão,
é preciso embriagar-vos sem trégua.

Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira.
Mas embriagai-vos.

E se, alguma vez, nos degraus de um palácio,
sobre a grama verde de um precipício,
na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes,
a embriaguez já diminuída ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro,
ao relógio, a tudo que foge,
a tudo que geme,
a tudo que anda,
a tudo que canta,
a tudo que fala,
perguntai que horas são;
e o vento, a onda, a estrela,
o pássaro, o relógio, responder-vos-ão:

“É hora de embriagar-vos!
Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos:
embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira”.

Charles Baudelaire

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