quinta-feira, maio 01, 2008

Da cidade

a cidade pára,

as árvores, as ruas,
os altos prédios,
e uma bandeira do Sport
pendurada numa janela,

como mortos
depois de enterrados,
que nem fios de cabelos
movem mais
e só com o tempo
soltam-se e caem.

mas está viva,
posso sentir sua respiração
como num sono de cinderela.

um dia a cidade acorda
e os prédios e as folhas
hão de cair,
o cimento decomposto
e as folhas murchas
hão de passear pelas ruas
que com passos
fracos, mas ritmados
ainda hão de esburacar
seus asfaltos,

e aquela bandeira do Sport,
na janela,
voltará a voar
abraçada ao vento,

agora a cidade só posa para uma tela
que ninguém pinta,
e espera
uma obra que nunca sai.

e só o que tem vida na cidade
é o que já está morto:

eu, tu, eles

e nós todos.

André Espínola

0 comentários: