quarta-feira, dezembro 13, 2006

Democracia na Privada

Sempre fui um grande amante da Democracia. Onde quer que eu fosse a defendia com veemência. O seu conceito é lindo! O poder político de um estado estar no povo. “Governo do povo, pelo povo e para o povo!” Que frase linda, concorda? Sempre gostei. Sou um democrata!

A democracia força as pessoas a conviverem com as opiniões das mais divergentes. Todo mundo tem uma voz. Qualquer um pode chegar e dizer sua opinião e lutar por ela, mesmo que seja a minoria. Não importa, mesmo perdendo, o bonito da coisa é ter uma forma de se expressar, de colocar sua voz no alto falante e mostrá-la para todos. Isso obriga, de certa forma, as pessoas a respeitarem as opiniões desse povo. É um sistema complexo, pois a sociedade é composta pelos mais diferentes tipos de pessoas, com os mais diversos interesses. Isso torna mais forte a maioria, que grita mais alto. Mas a minoria tem sua voz e pode reclamar. Será ouvida.

Utilizei esse conceito por toda a minha vida. Qualquer coisa que eu fizesse, tinha em mente essa máxima: “respeitar as opiniões alheias e ouvi-las, sempre”. Portanto em todos os meus círculos sociais, tanto no trabalho quanto nas amizades, sempre pratiquei a democracia. Se eu estava em grupo e tivesse que tomar uma decisão, eu sugeria uma votação, para a maioria ganhar, afinal, isso é uma democracia. Lembro de várias vezes eu ter perdido na votação, mas fiquei muito feliz por poder dizer a minha opinião, deixar claro minha divergência. Querendo ou não, as pessoas ouviram uma opinião diversa. E respeitaram-na. Tudo bem que perdi, pois era a minoria. Teve uma vez que a votação só teve um voto contra. Era o meu. Mas tudo bem, tinha falado. Sentia-me bem comigo mesmo.

Até que chegou um dia que vi que eu não era de todo um democrata. Foi um choque na minha vida. Tão forte que a escrevo agora.

Era um dia comum, como todos os outros. Estava tranqüilo lendo um livro na minha confortável e calorosa cama. De repente, senti algo no meu estômago. Ele estava se embrulhando lá por dentro, quase explodindo. Sabia o que viria. Seria uma cagada poderosa. Como eu sabia que ela seria forte, decidi ficar até quase não agüentar mais, porque quando fosse ao banheiro, descarregaria com tudo. De uma vez só. Concentrei-me para segurar um pouco mais, até que chegou no limite. E foi aí que eu levei o choque.

Fui diretamente ao banheiro. Mal conseguia andar. A barriga chegava a doer, de tanta merda que havia dentro. Mas imaginem o susto quando abri a tampa do sanitário e vi que tinha uma bosta – gigante – lá dentro. Eca! Nunca tinha achado ruim olhar minha própria bosta, até gostava. Era interessante. Mas a dos outros? Nunca! Nojento!

Não consegui abaixar as calças para cagar. Simplesmente não conseguia. Não iria sentar ali naquele sanitário com aquela merda toda. Na verdade, fiquei indignado! Como é que cagam e não dão descarga?! Por acaso eu tenho que aturar a merda dos outros? Isso é inadmissível! Não aceitei e ainda não aceito!

Saí do banheiro imediatamente gritando:

- Quem foi que cagou e não deu descarga, porra?!

Num instante a vontade toda de cagar havia desaparecido. Sabe quando a gente brocha numa foda? Pois bem, também há a brocha da cagada. A merda simplesmente não sai. Eu não iria cagar. Tinha uma merda que não era minha na privada.

Não aceito merda dos outros.

Foi assim que descobri que às vezes sou antidemocrata.


André Espínola

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