quarta-feira, setembro 13, 2006

kd Bukowski

Manhã de domingo
"O sol já ia nascendo. O mundo estava acordando. Alguns de ressaca. Outros, pensando em ir à igreja. A maioria ainda dormia. Domingo de manhã."

Bukowski, no leito de morte
"A ambulância chegou ao destino e quando vi, estava deitado numa mesa, ouvindo perguntas: qual era a minha religião? Onde tinha nascido? Havia ficado devendo alguma conta anterior ali no hospital ? Qual a data do meu nascimento? Pais ainda vivos? Casado? Tudo o que se possa imaginar. Falam com um sujeito como se estivesse na maior lucidez; nem se dão ao trabalho de fingir que a gente não vai morrer. E não tem a mínima pressa. Com isso o cara se acalma, mas não por causa deles: são movidos pelo tédio e pouco estão ligando se a gente morre, sai voando ou dá um peido. Não, peidar já é considerado um exagero.
- Mr. Bukowski .- anunciou - não podemos lhe dar mais sangue. O senhor não dispõe de crédito para transfusão. Sorria. Estava me comunicando que iam deixar que eu morresse.
- Tudo bem - retruquei.
- Quer falar com o padre?
- Pra quê?
- Na sua ficha de entrada o senhor botou que é católico.
- Botei por botar.
- Por quê?
- Porque já fui. Se a gente põe que não tem religião, as pessoas fazem uma porção de perguntas.
- Pra nós o senhor é católico, Mr. Bukowski.
- Escute aqui, pra mim tá difícil falar. Tô morrendo. Tá legal, tá legal, sou católico, faça o que bem entender.
Uma hora acordei e dei com o padre parado a meu lado.
- Padre - pedi, - por favor, vá embora. Posso morrer sem isso.
- Quer que me retire filho?
- Quero sim, padre.
- Perdeu a fé.
- Perdi, sim.
- Meu filho, que é católico, nunca deixa de ser.
- Pura onda padre.
Na cama ao lado, um velho chamou:
- Padre, padre, quero falar com o senhor. Fale comigo padre.
O sacerdote foi pra lá. Fiquei esperando a morte. Você está careca de saber que acabei não morrendo, senão não estaria aqui escrevendo tudo isso..."

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