kd Morte

Último dia Antes da Morte


Acordo, abro os olhos e penso
"Mais um dia no meu subsolo;
Mais um dia de solidão"
sinto-me fraco; será hoje o dia?
estou velho, sujo e só
as moscas a zumbir no meu ouvido
a morte me é um presente.

levanto-me e ando
tal como Jesus nos disse
sento-me e choro
tal como a vida nos diz

que silêncio esurdecedor!
escuto as batidas do coração
na convivência com a solidão
num vida inteira sem amor

sessenta anos contabilizados
sentado sozinho em um quarto
cortinas e janelas fechadas
para a luz não entrar,
ela não deseja entrar,
quer deixar-me só.

levanto-me e ando
tal como Jesus nos ensinou
sento-me e choro
tal como a vida nos ensinou

dirigo-me à janela,
abro-a; e que vejo eu?
que belo dia lá fora!
casais passeando ao meio dia!
abraçando-se, beijando-se, sorrindo
enquanto a mim: a eterna noite taciturna

canso-me da vista, volto-me a sentar
sirvo-me o último copo de vinho
pego mais um livro desgastado
companheiro nas horas mais escuras
amigos agora? mais nenhum.

sinto a hora aproximar-se
sinto a volúpia da morte
a volúpia da libertação!
nunca mais solidão!

começo agora a adormecer-me
meus olhos vão-se fechando
fecha-los-ei com prazer
um sono tranquilo e eterno
o eterno e tranquilo sono da morte.

André Felipe de A. Espínolaº